Um Bom Pai Valoriza Seus Filhos
de Max Lucado 
 “Jenna, acorde! Hora de ir pra escola!” 
 Ela vai ouvir essas palavras umas mil vezes na vida dela. Mas hoje foi a primeira vez que ela as ouviu. 
 Eu me sentei na beira da cama dela por um tempo, antes de dizer essas  palavras. Para dizer a verdade, eu não queria pronunciá-las. Eu não  queria acordá-la. Uma hesitação esquisita pairou sobre mim enquanto eu  me sentava na escuridão da manhã. Eu fiquei em silêncio. Eu sabia que  minhas palavras a acordaria para um novo mundo. 
 Durante quatro rápidos anos ela havia sido nossa, só nossa. E agora tudo iria mudar. 
 Nós a colocamos na cama ontem à noite como “nossa menina”- propriedade  exclusiva de Mamãe e Papai. Mamãe e Papai liam para ela, ensinavam-na,  escutavam-na. Mas a partir de hoje, outra pessoa faria isso também. 
 Até hoje eram Mamãe e Papai que enxugavam suas lágrimas e colocavam  Band-Aids. Mas a partir de hoje, outra pessoa também o faria. 
 Eu não queria acordá-la. 
 Até hoje, a vida dela era essencialmente limitada a nós – Mamãe, Papai e  a irmãzinha Andrea. Hoje aquela vida cresceria – novos amigos, uma  professora. O mundo dela estava nessa casa – o quarto dela, seus  brinquedos, seu balanço. Hoje seu mundo expandiria. Ela ia entrar nos  corredores sinuosos da Educação – pintura, leitura, cálculos…sendo  transformada. 
 Eu não queria acordá-la. Não por causa da escola. É uma boa escola. Não  porque eu não queira que ela aprenda. Deus sabe que eu quero que ela  cresça, leia, amadureça. Não porque ela não queira ir. Durante esta  semana ela só falou da escola! 
 Não. Eu não queria acordá-la porque eu não queria abrir mão dela. 
 Mas mesmo assim eu a acordei. Eu interrompi sua infância com a  inevitável proclamação “Jenna, acorde!… Está na hora de ir à escola!” 
  Eu demorei demais pra me arrumar. Denalyn me viu cabisbaixo, e me ouviu  sussurrando “O sol nasce e o sol de põe”, e disse, “Você não vai  agüentar passar pelo casamento dela.” Ela está certa. 
 Dirigimos para a escola em dois carros para que de lá eu pudesse ir  direto para o trabalho. Eu pedi a Jenna para ir comigo. Eu achei que  deveria dar a ela um pouco de segurança de pai. Mas na verdade era eu  quem estava precisando de segurança. 
 Apesar de ser alguém que se dedica a trabalhar com palavras, eu consegui  muito poucas para compartilhar com ela. Eu disse a ela que esperava que  ela gostasse da escola. Disse-lhe para obedecer à professora. Eu disse,  “se você se sentir sozinha ou com medo, diga à professora para ligar  para mim e eu virei e lhe pegarei.” “Tá bom!”, ela sorriu. Então ela  perguntou se poderia ouvir escutar umas músicas infantis. “Tá bom!” Eu  respondi. 
 Daí, enquanto ela cantava canções, eu prendia o choro. Eu a observei  enquanto cantava. Ela parecia grande. Seu pequeno pescoço se esticava o  máximo que podia para ver por cima do painel do carro. Seus olhos  estavam famintos e brilhantes. Suas mãos estavam juntas no colo. Seus  pés tinham tênis cor de rosa com turquesa, novinhos em folha, que mal  ultrapassavam o assento do carro. 
 “Denalyn estava certa,” eu resmunguei para mim mesmo. “Eu não agüentarei passar pelo casamento dela.” 
 O que está se passando na cabeça dela?  Eu imaginei. Será que ela sabe o  quão alta é essa escada da Educação que ela vai começar a subir hoje de  manhã? 
 Não, ela não sabe! Mas eu sabia. Quantos quadros de salas de aula  aqueles olhos verão? Quantos livros as suas mãos segurarão? Quantos  professores os seus pés seguirão e – ai! – imitarão? 
 Se eu tivesse poder, eu reuniria no mesmo instante todos os professores,  instrutores, técnicos e tutores que ela teria nos próximos dezoito anos  e anunciaria, “Esta não é uma estudante comum. É minha filha. Tenham  cuidado com ela!” 
 Ao estacionar e desligar o motor do carro, minha grande filha se tornou  pequena de novo. E foi a voz de uma menina muito pequena que quebrou o  silêncio. “Pai, eu não quero sair do carro.” 
 Eu olhei para ela. Os olhos que antes estavam brilhantes agora pareciam  amedrontados. Os lábios que haviam cantado agora estavam trêmulos. 
 Eu lutei contra um desejo extraordinário de atender ao seu pedido. Tudo  em mim queria dizer “Tá bom, vamos deixar isso pra lá e vamos embora  daqui!” Por um breve momento eu considerei a possibilidade de seqüestrar  minhas filhas, pegar minha esposa e fugir das garras horríveis do  progresso para viver para sempre no Himalaia. 
 Mas eu sabia que era errado. Eu sabia que era hora. Eu sabia o que era  certo e que ela ficaria bem. Mas eu não sabia que seria tão difícil  dizer, “Querida, você estará bem. Venha, eu lhe levo.” 
 E foi tudo bem. Um passo dentro da sala de aula e o gato da curiosidade  tomou conta dela. E eu saí. Eu abri mão dela. Não tanto. E não tanto  quanto eu terei que fazê-lo no futuro. Mas eu abri mão do quanto eu  podia hoje. 
 Enquanto andava de volta para minha caminhonete, um versículo bateu na  minha cabeça. Foi uma passagem que eu havia estudado antes. Os eventos  de hoje levaram o versículo da teologia em preto e branco para a  colorida realidade. 
 “Que diremos, pois, diante dessas coisas? Se Deus é por nós, quem será  contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por  todos nós – como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as  coisas? (Romanos 8:31-32, itálico do autor) 
 Foi assim que você se sentiu, Deus? O que eu senti hoje de manhã pareceu  em alguma coisa com o que você sentiu quando abriu mão de seu Filho? 
 Caso sim, explica tantas coisas. Explica a proclamação dos anjos para os  pastores nos arredores de Belém. (Um pai cheio de orgulho ao anunciar o  nascimento de seu filho) 
 Explica a voz no batismo de Jesus, “Este é meu Filho…”(Você fez o que eu queria fazer, mas não podia) 
 Explica a transfiguração de Moisés e Elias no topo da montanha. (Você os mandou para encorajá-lo) 
 Explica o quanto o seu coração deve ter doído ao ouvir a voz quebrantada de seu filho “Pai, afasta de mim este cálice.” 
 Eu estava deixando Jenna num ambiente seguro com uma professora  compassiva, a qual estaria pronta para enxugar qualquer lágrima. Você  deixou Jesus numa arena hostil com um soldado cruel, o qual deixaria as  costas dele em carne viva. 
 Eu disse Adeus a Jenna sabendo que ela faria novos amigos, daria  gargalhadas e desenharia. Você disse Adeus a Jesus sabendo que cuspiriam  nele, ririam dele e o matariam. 
 Eu abri mão da minha filha sabendo que , se ela precisasse de mim, eu  estaria ao lado dela imediatamente. Você disse Adeus ao seu filho  totalmente ciente de que quando ele mais precisasse de você, quando seu  grito de desespero bradasse através dos céus, você ficaria em silêncio.  Os anjos, no entanto, em suas posições, não ouviriam nenhuma ordem sua.  Seu filho, apesar de estar em angústia, não sentiria conforto vindo de  suas mãos. 
 “Ele deu o seu melhor,”  Paulo argumenta, “Por que duvidar do amor dele?” 
 Antes que o dia terminasse, eu sentei em silêncio pela Segunda vez.  Desta vez, não ao lado da minha filha, mas diante de meu Pai. Desta vez  não triste pelo que eu teria que dar, mas grato pelo que eu já havia  recebido – prova viva de que Deus se importa.